segunda-feira, 27 de setembro de 2010
Ninho do Sol recebe "História no Ponto" da Biblioteca Nacional
Matéria da Secretaria de Estado de Comunicação Social (Secom/MT) sobre o evento História no Ponto ocorrido em Campo Novo do Parecis entre os dias 23 e 25 de setembro de 2010.
A reportagem é de Rafael Sousa.
História no Ponto: Evento divulga Campo Novo para o Mato Grosso e para o Brasil
Uma equipe de jornalistas da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom-MT), acompanhou o desenvolvimento do evento na cidade e nas Terras Indígenas (T.I.) Utiariti (Índios Paresí-Haliti de Campo Novo do Parecis) e Tirakatinga (Índios Nhambikwara de Sapezal).
O foco do acontecimento, inédito no estado, foi a Missão Jesuíta de Utiariti, localizada na T.I. Tirakatinga, em Sapezal.
Desde sexta-feira, 24, dezenas de portais eletrônicos e jornais impressos publicaram matérias falando do evento. A Secom disponibilizou ainda spots e vídeos que são utilizados por emissoras de rádio e canais de TV de todo o estado.
A repercussão do “História no Ponto” chegou a ultrapassar as fronteiras matogrossenses, ganhando mídias independentes de outros estados brasileiros.
Confira abaixo alguns links de portais eletrônicos que divulgaram o “História no Ponto”:
1- Diário de Cuiabá;
2- Gazeta Digital;
3- Secom/MT;
4- Secretaria de Cultura de Mato Grosso;
5- Olhar Direto;
6- Jornal Correio da Semana;
7- Juína News;
8- Repórter News;
9- Barra do Bugres News;
10- Parecis.Net;
11- 24 Horas News;
12- Casa Militar;
13- O Nortão;
14- Coisas de Mato Grosso;
15- Planeta Universitário;
16- Dia-a-Dia News;
17- O Documento;
18- Expresso MT;
19- Jus Brasil;
20- Mato Grosso e seus Municípios.
É Cultura? Tá no Ponto!
domingo, 26 de setembro de 2010
Equipe do História no Ponto se encanta com ruínas e Salto Utiariti
O grupo foi acompanhado do diretor do Departamento de Cultura de Campo Novo, Vanderlei Guollo, da chefe de eventos culturais, Sílvia Schneiders, do diretor do Teatro Ogan, Alexandre Rolim e do integrante do Grupo, Eduardo Gevizier, bem como de jornalistas da Secretaria de Estado de Comunicação (Secom).
Leia abaixo matéria publicada pela Secom/MT:
Às margens do rio Papagaio, em Sapezal (480 km a Noroeste de Cuiabá), dentro da reserva Tirakatinga, dos Nhambikwaras, as ruínas da Missão Jesuíta de Utiariti (Companhia de Jesus), que catequizavam crianças indígenas no Centro Oeste do Brasil, em Mato Grosso, remetem à antiga construção do início do século XX e retratam costumes e modos de vida dos indígenas da etnia paresí e nhambikwara e padres que lá chegaram desde 1930.
Andando pelo local, a sensação é de resgate histórico. Impossível não imaginar os indiozinhos correndo pelo local, estudando nas salas de aula, os padres ensinando os ofícios, como marcenaria, serralheria, além das aulas de matemática, português e religião.
O trajeto é feito de balsa de um lado ao outro da margem do rio Papagaio, entre as terras dos paresí e dos nhambikwara.
Este resgate à cultura, à memória de um povo, às raízes foram um dos objetivos que levaram o Ponto de Cultura 'Ninho do Sol' em Campo Novo do Parecis (396 km a Noroesre da Capital) a encaminhar o projeto sobre a cultura local e a história da missão jesuíta na terra nhambikwara, em Sapezal, para participar do documentário produzido pela Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN).
(...)
A historiadora e professora de História, Patrícia Woolley, acompanhou a equipe da RHBN e disse que estar nas ruínas das missões jesuítas é reviver um pedaço da história do Brasil. “Essa região, o Norte de Mato Grosso, tem um povoamento recentíssimo. Campo Novo do Parecis, por exemplo, data da década de 70.
Então durante muito tempo isso aqui era terra ‘dos’ índios e não ‘de’ índios. Aqui é um pedaço da história do Brasil, porque ela foi sendo construída assim, aos poucos. Estar aqui é reviver um pouquinho dessa ocupação. Me sinto muito privilegiada por estar aqui”, disse Patrícia.
A preocupação com o resgate da memória não é característica do povo brasileiro, segundo Patrícia Wolley, que explicou ser esse um dos motivos de estarem em terras mato-grossenses realizando o documentário.
A parceria entre o Ministério da Cultura, a RHBN, Ponto de Cultura de Campo Novo do Parecis, procura resgatar a memória do local. “O nosso objetivo é despertar nos próprios moradores que a região deles tem uma história e isso não pode ser esquecido. As pessoas têm que valorizar isso, porque o ser humano não é só material, ele precisa conhecer suas raízes. Nosso objetivo é despertar para a consciência de suas origens de Mato Grosso, como a história da região se desenvolveu”, explicou.
Uma iniciativa que parte da própria região, dos moradores, do Ponto de Cultura”, ressaltou ao complementar que se não houvesse esse engajamento por parte do Ponto talvez não estariam na cidade, “porque foram eles que mandaram o projeto que gostariam de participar desse registro, do documentário que está sendo feito em vários pontos do Brasil. Falta esse tipo de interesse, de mentalidade no nosso país”, concluiu.
Em Campo Novo do Parecis o projeto História no Ponto tem o apoio da Câmara Municipal, Governo Municipal e Secretaria Municipal de Educação e Cultura.
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sábado, 25 de setembro de 2010
Festival Ninho do Sol integra culturas em Campo Novo do Parecis
A proposta de integração cultural do Ponto de Cultura Ninho do Sol, projeto do Teatro Ogan de Campo Novo do Parecis, pode ser facilmente observada durante o Festival Ninho do Sol, ocorrido na noite de ontem, sexta-feira, 24, no Plenário do Fórum.
Além destas, o evento teve apresentações de Dança de Rua, Balé, Danças do Ventre, Teatro e Artes Plásticas.
O Festival Ninho do Sol faz parte da programação do História no Ponto e contou com o apoio do Governo Municipal, Câmara Municipal e Secretaria Municipal de Educação e Cultura (Semec).
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sexta-feira, 24 de setembro de 2010
Debate reúne mais de 200 professores no Plenário do Fórum
A Mestre em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Patrícia Wolley, mediou as discussões, levantou questionamentos e fez críticas .
“A relação com os índios ia muito além de uma simples aculturação. Os jesuítas também foram influenciados pela população nativa. Alguns índios se sujeitavam a ficar sob a tutela da Igreja para fugir da escravidão. No Pará e Maranhão, por exemplo, a escravidão indígena superou a negra”, continuou.
Questionada se os jesuítas contribuíram em algo para os indígenas, Patrícia responde: “Eram trocas culturais desiguais? Sim. Mas os jesuítas fizeram um trabalho pioneiro do registro das línguas nativas, por exemplo, foram eles quem começaram a transformar a linguagem oral em escrita”, disparou.
"O binarismo vencedor versus vencido deixa de considerar o indígena como agente histórico ativo. Será que preservar a cultura e a memória das populações indígenas é o mesmo que mantê-las isoladas do mundo exterior?", criticou Patrícia Wooley.
Patrícia lembrou que sua especialidade são os jesuítas do período colonial e relatou que as missões do século XX foram pouco estudadas. Ela parabenizou o Ninho do Sol por estar trabalhando com o tema.
“Nosso objetivo é lançar essa discussão e influenciar as próprias pessoas daqui e de outros lugares a pesquisar mais sobre o assunto e aqui foi dado o pontapé inicial, parabéns ao Ponto de Cultura pela iniciativa”.
Na manhã deste sábado, 24, Patrícia Woolley, Anderson Barreto, Adriano Belisário e o pessoal do Ninho do Sol se deslocará às ruínas da Missão Jesuíta de Utiariti, na Reserva Tirakatinga, dos índios Nhambikwara, situada a 140 quilômetros de Campo Novo do Parecis, no município de Sapezal. Essa será a primeira vez que a equipe da RHBN visitará o local.
O projeto História no Ponto é realizado pela RHBN em parceria com o Ponto de Cultura Ninho do Sol, do Teatro Ogan. Em Campo Novo o projeto teve o apoio do Governo Municipal, Câmara Municipal e Secretaria de Educação e Cultura (Semec).
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“Ninho do Sol é referência”, diz coordenadora dos Pontos do Mato
Para ela, o Teatro Ogan desenvolve um trabalho sério e que tem conseguido resultados acima da expectativa da própria Secretaria de Estado de Cultura (Sec).
“Campo Novo do Parecis é um referencial porque já foi triplicado o número de ações voltadas para a área cultural”, disse ao frisar que essas ações acontecem na Unidade Prisional, escolas e em outros tantos locais.
“Para mim, dentro dos vários municípios que ganharam a concorrência através do edital, o Ponto de Cultura Ninho do Sol tem feito a diferença, coletando dados da população, da história e colonização da cidade e região, algo que até então não havia sido feito”, admitiu.
Cinthia está na cidade acompanhando o evento História no Ponto e Festival Ninho do Sol. Amanhã ela conhecerá algumas aldeias, locais turísticos e históricos importantes de Campo Novo do Parecis.
Balaio de História: Moradores falam sobre Madre Tarcila e Padre Arlindo
A equipe do projeto “Balaio de História” da Revista de História da Biblioteca Nacional (RHBN), chegou à Campo Novo do Parecis na noite desta quinta-feira, 23, e já iniciou os seus trabalhos. Vários moradores foram entrevistados na noite de ontem e na manhã de hoje, sexta-feira, 24.
O tema das entrevistas: a relação de Padre Arlindo e Madre Tarcila com os índios Paresí-Haliti durante e depois das Missões Jesuítas de Utiariti.
Os entrevistados: Professora Sandra Paim; Empresário Rildo Tomazelli; Frei Natalino; Francisco Dallepiane, Professora Clarice Dalsólio, entre outros.
Muitas histórias foram contadas, e relembradas, aos entrevistadores, o vídeomaker Anderson Barreto e o jornalista Adriano Belisário. Alguns desses relatos inéditos e emocionantes.
Rildo Tomazelli lembrou a relação amigável que sua família teve com o Padre Arlindo. “O Padre Arlindo era de casa, ele dormia no hotel (Tomazelli) sempre que chegava cansado das aldeias”, conta.
“Ele amava os índios e agia como se fosse um deles, abandonou o conforto da cidade e a família para se dedicar a eles”, relata.
E admite: “- Ele gostava de tomar um uisquezinho”.
Francisco Dallepiane comentou sobre as missões e sobre a importância delas na transformação cultural e comportamental dos indígenas. Lembrou de sua convivência com o Padre Arlindo e a sua atuação junto as diversas etnias da região: Manoki, Nhambiakwara e, concomitantemente, os Paresí-Haliti.
Dallepiane pontuou que acima de tudo, Padre Arlindo queria o bem dos índios e que depois de sua morte, os Haliti ficaram relativamente ‘abandonados’. ‘Chico’ dava apoio ao padre na execução de projetos pecuários que eram desenvolvidos nas aldeias.
Clarice Dalsólio, que hoje é bibliotecária da Escola Estadual Madre Tarcila, falou sobre a importante relação da irmã Tarcila com a educação dos indígenas. Relatou sobre a vida da madre, desde o sul do país às Missões de Utiariti.
Clarice lembrou que Madre Tarcila fez parte da Congregação das Irmãzinhas da Imaculada Conceição e que desde menina se ‘apaixonou’ pelos índios Paresí-Haliti, se dedicando a eles até o último dia da sua vida.
Além destes, ainda serão entrevistados indígenas e outras pessoas que conviveram ou que tenham relatos sobre esta relação, Jesuítas x Índios, que teve início na metade do século XX.
Na tarde hoje, ocorre a partir das 14 horas o debate: “Educação Visionária”, com a Msc. em História pela Universidade Federal Fluminense (UFF), Patrícia Woolley e logo mais a noite ocorre o Festival Ninho do Sol, a partir das 19h30.
Amanhã pela manhã, a equipe composta pelos integrantes da RHBN e do Ponto de Cultura Ninho do Sol seguirá para as aldeias Utiariti, Bacaiúval e Bacaval, além do Salto Utiariti, nas imediações da Missão Jesuíta homônima.
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quarta-feira, 22 de setembro de 2010
Festival Ninho do Sol - um Balaio de Artes!
O Festival Ninho do Sol é um evento que faz parte da programação do "História no Ponto", evento promovido pela Revista de História da Biblioteca Nacional em parceria com o Ponto de Cultura Ninho do Sol.
Este festival será realizado na próxima sexta-feira, às 19h30, no Plenário do Fórum, e será composto por uma programação diversificada. Estarão em palco os aprendizes das oficinas de arte do Ponto de Cultura Ninho do Sol, os arte-educandos das oficinas de arte do Centro Cultural, Projeto Aplauso, CRAS Girasol Boa Esperança, CTG Porteira da Tradição, Escola Municipal 04 de Julho e Teatro Ogan.
Ingresso simbólico: R$ 2,00.
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PROGRAMAÇÃO
1 - Teatro Ogan
Performance: “A Cela”
2 – Escola Municipal 04 de Julho
Grupo Vozes
Espetáculo: Quem é o deficiente?
Autoria: Mário Quintana
Adaptação: Elizandra Pereira
Direção: Elizandra Pereira e Daniela Boniatti Desordi
Melhor Espetáculo Infanto-juvenil do V FEsTeatro
3 - Oficina de Teclado do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Oficineiro: Welder da Vitória
Aluna: Ediléia Zamarioli
Músicas: I don't have to say (José Carreras & Sara Brightman)
Aquarela (Toquinho)
4 - Oficina de Balé do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Oficineira: Karin Nina
Grupo Flores do Amanhã
Coreografia: Abra suas asas
5 - Oficinas de Dança do Ventre do Centro Cultural
Instrutora: Franciele Almeida
Grupo Rosas de Shairoom
Coreografia: Luz do Sol
6 - Oficinas de Dança de Rua do Centro Cultural
Instrutor: Weleton Soares
Grupo New Style
Coreografia: Renovação
7 - Oficinas de Violão do Centro Cultural
Instrutor: Pedro da Vitória
Arte-educandos: Dudu
Música: Fã (Cristian e Cristiano)
8 - Oficinas de Capoeira do Centro Cultural
Instrutor: Carlito Ferreira (Monitor Sabiá)
Roda de Capoeira
9 – CTG Porteira da Tradição
Instrutor de Dança: Anderson Luis da Costa
Coreografia: Balaio
10 – Oficinas de Balé Moderno do CRAS Gira Sol Boa Esperança
Instrutora: Franciele Almeida
Grupo Encanto
Coreografia: Santo dos Santos
11 - Oficinas de Balé do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Oficineira: Karin Nina
Grupo Dançarte
Coreografia: Pra você guardei o amor
12 - Oficinas de Dança do Ventre do Centro Cultural
Instrutora: Franciele Almeida
Grupo Helluá
Coreografia: Sedução
13 – Oficinas de Violão Avançado do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Oficineiro: Welder da Vitória
Aluno: Bruno Kisnner
Música: Choro de Criança (instrumental) de Kiko Loureiro
14 – Oficinas de Violão Avançado do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Oficineiro: Welder da Vitória
Alunos: Bruno, Deisiane, Valdomiro, Henrique, José Augusto e Allan
Música: Aquarela do Brasil (Ari Barroso)
15 - Oficinas de Balé do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Sob a Coordenação de Franciele Almeida
Grupo Madre Luna
Coreografia: Dança da Colheita
16 - Oficinas de Dança do Ventre do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Oficineira: Karin Nina
Grupo Odaliscas do Sol
Coreografia: Ãtfh (antif)
17 - Oficinas de Balé do Ponto de Cultura Ninho do Sol
Coreógrafo: Fábio Lima
Grupo Flor de Menina
Coreografia: Para ser Feliz
18 - Oficinas de Balé do Projeto Aplauso do Bairro Jardim das Palmeiras
Instrutora: Franciele Almeida
Grupo Almas
Coreografia: Maria Maria
19 – Oficinas de Dança de Salão do Centro Cultural
Instrutor: Weleton Soares
Grupo Estilo Refinado
Coreografia: Ritmus
20 - Banda de Percussão do Centro Cultural
Instrutor: Elton Geiss
Arte-Educandos: Lucas, José Augusto, Djonatan, Marcelo Henrique, Geison, Edilson e Jeferson.
Peças Musicais: Mercedita – Ramón
Trio Metal – Daniela Mercury
segunda-feira, 20 de setembro de 2010
Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti: A Lenda do Cabeçabol
Conta a lenda dos índios Paresí-Haliti, que logo que saiu da pedra (Ponte de Pedra), o herói mítico, Wazare, distribuiu seu povo em diversas regiões do Chapadão dos Parecis.
Depois de cumprir sua missão, Wazare fez uma grande festa de confraternização antes de voltar a seu mundo. Durante a festa, ele mostrou a todos a função da cabeça no comando do corpo e sua capacidade de desenvolver a inteligência e alcançar a plenitude mental e espiritual.
Ele também demonstrou que a cabeça poderia ser usada em sua capacidade física, especificamente na habilidade para com o Xikunahity, o Cabeçabol. De acordo com as crenças desta etnia, foi nesta comemoração que aconteceu a primeira partida deste esporte curioso.
Entre os Paresí, o esporte só é praticado durante grandes cerimônias, como: oferta da primeira colheita das roças, iniciação dos jovens de ambos os sexos, ritual das flautas sagradas, caça, pesca e coleta de frutas silvestres abundantes e batismo.
A bola de mangaba
A bola utilizada no jogo é peculiar, pois é de fabricação dos Haliti, feita com a seiva de mangabeira, um tipo de látex extraído de uma arvorezinha do cerrado.
O processo de confecção tem duas etapas: na primeira, a seiva é colhida e colocada sobre uma superfície lisa, onde permanece por certo tempo, até formar uma camada ligeiramente espessa.
Na segunda fase faz-se a parte central da bola (núcleo), que inclui o aquecimento da seiva de mangaba em uma panela e resulta em uma película. O látex tem suas extremidades unidas, de modo a formar um saco que será inflado com ar, por meio de um "canudo".
Depois, o núcleo ganha formas arredondadas e recebe sucessivas películas de látex, obtidas da primeira etapa, até formar uma bola, secar e resfriar, ganhando consistência suficiente para pular. A bola tem aproximadamente 30 cm de diâmetro.
O que é?
O Xikunahity é uma espécie de futebol, em que o chute só pode ser dado usando a cabeça.
É um esporte praticado tradicionalmente pelos povos Paresi, Salumã, Irántxe, Mamaidê e Enawenê-Nawê, todos de Mato Grosso. É disputado por duas equipes que podem possuir oito, dez ou mais atletas e um capitão.
É realizada em campo de terra batida, para que a bola ganhe impulso. O tamanho do campo é semelhante ao de futebol, e conta com uma linha demarcatória ao centro, que delimita o espaço de cada equipe.
A partida tem início quando dois atletas veteranos, um de cada equipe, dirigem-se ao centro do campo para decidir quem irá lançar a bola ao outro, que deverá rebate-la. Isto é decidido por meio de diálogo e a partida inicia com a primeira cabeçada para o campo adversário, a ser recepcionada por um dos atletas com a cabeça.
Após isso, os dois atletas deixam o campo, e não realizam outra atividade durante o jogo inteiro. Na disputa, a bola não pode ser tocada com as mãos, pés ou outra parte do corpo, mas pode tocar o chão, antes de ser rebatida pela outra equipe.
Os atletas Paresí se atiram e mergulham com o rosto rente ao chão, livrando o nariz de tocar o solo, o que provoca uma certa violência no "chute" de cabeça e demonstram toda a habilidade, destreza e técnica necessárias na recepção e arremesso da bola.
A equipe marca pontos quando a bola não é devolvida pelos adversários, ou seja, quando deixa de ser rebatida. Quanto maiores as habilidades dos atletas que compõem as equipes, mais acirradas são as disputas, podendo durar até mais de quarenta minutos.
Da Série Mitos e Lendas Paresí-Haliti.
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Curso "Diálogos - Museu em Mato Grosso" é adiado
O motivo para o adiamento é a dificuldade de logística devido ao período de eleições, segundo nos informou a Secretaria de Estado de Cultura de Mato Grosso, parceira desta ação em Campo Novo do Parecis.
A programação normal do "História no Ponto" segue conforme divulgado:
- 24 de setembro - 14h - Debate: "Educação visionária" com a Professora Patrícia Woolley, Mestre em História pela UFF.
- 24 de setembro - 19h30 - Festival Ninho do Sol, com apresentações de música, teatro, dança, capoeira e artes plásticas.
Nos dia 25 e 26 de setembro, a equipe da Revista de História da Biblioteca Nacional estará visitando os pontos históricos de Campo Novo do Parecis e região, e realizando entrevistas com pessoas que tiveram contato direto com Pe. Arlindo Ignácio de Oliveira e Madre Tarcila, personagens históricos do período das Missões.
domingo, 19 de setembro de 2010
"Setembro Freire" inicia nesta segunda, em Cuiabá
Nesta segunda-feira, dia 20 de setembro, estará aberto o Circuito Cultural Setembro Freire, às 19h, no Pavilhão das Artes, Palácio da Instrução, ao lado da catedral, em Cuiabá-MT.
Serão 38 artistas interpretando 13 poemas de Silva Freire para performances em teatro, dança, gastronomia, vídeo, esculturas, fotografias, instalações e obras plásticas. Dj Faraz comandará a comemoracão.
Venha participar deste circuito cultural, um momento de grande importância para o mercado cultural matogrossense. O Circuito Cultural Setembro Freire tem entrada franca.
sábado, 18 de setembro de 2010
Programação do Curso "Diálogos - Museu em Mato Grosso"
INFORMAÇÕES:
Dia: 25/09/2010
Horário: 07h30 às 11h30 – 13h30 às 17h30
Local: Plenário da Câmara de Vereadores de Campo Novo do Parecis
Carga horária: 08 horas, com certificado
Ministrante: Maria Antúlia Leventi
EMENTA:
Museu, Museologia e Museografia. A importância da documentação museográfica. Documentação e pesquisa nos museus. Processamento técnico, preservação e gestão da informação. A construção de bases de dados. Sistemas informatizados disponíveis no Brasil para tratamento de informações. Inventário e catalogação. A construção de redes de informação. Política de documentação: da aquisição ao descarte.
Visita ao Museu Histórico de Rosário Oeste
PROGRAMA:
Embasamento teórico
Apresentação
Museu, Museologia e Patrimônio: um breve histórico
O que é um museu
Os museus no Brasil
O que é Patrimônio
O processo museológico (funções básicas dos museus)
Os museus na atualidade
Documentação em museu
O que é documentação
O que é documento
Documentação em arquivos, bibliotecas e museus
Documentação em Ciência da Informação
Objetivos da documentação
Conhecimentos específicos
Aquisição de acervo
Ética de aquisição
A coleção: aberta ou fechada
Formas de aquisição
Política de aquisição
Registro e sistematização das informações
Levantamento do acervo
Classificação
Sistema de numeração
Marcação dos objetos
Inventário
Fichas de controle;
Nomenclator.Z
Uso e disseminação das informações
Prática
sexta-feira, 17 de setembro de 2010
Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti – Lenda do Pai-do-Mato
Quem nunca ouviu falar da Lenda do Pai-do-Mato. Uma das mais comuns e importantes, principalmente nas regiões Nordeste e Centro-Oeste do Brasil. O que as pessoas talvez não saibam é que esta lenda possui uma versão bastante interessante dentro da cultura dos índios Paresí-Haliti.
A primeira descrição da Lenda do Pai-do-Mato, entre estes indígenas, data do início do século XX, mais precisamente 1912, e foi feita pelo pesquisador Roquette-Pinto, em uma série de publicações e gravações (utilizando o dictaphone) e denominada “Ualalocê”. Roquette-Pinto foi um dos pioneiros no desvendamento e registro da tradição Haliti.
Quem também citou o Pai-do-Mato como figura lendária entre os Haliti foi o poeta modernista Mário de Andrade, que usou como base os escritos e sons de Roquette-Pinto. Mário de Andrade, entretanto, se aprofundou no assunto e argumentou a relação da lenda com questões de sexualidade e iniciação das jovens indígenas desta etnia.
A seguir um trecho da citação do poeta Mário de Andrade:
“A moça Camalalô
Foi no mato colher fruta
A manhã fresca de orvalho
Era quase noturna.
- Ah...
Era quase noturna...
Num galho de Tarumã
Estava um homem cantando,
A moça sai do caminho
Pra escutar o canto...
Enganada pelo escuro
Camalalô fala pro homem:
- Homem Ariti, me dá uma fruta que eu estou com fome.
- Ah...
Estava com fome...
O homem rindo falou:
- Zuimaalúti se engana,
Pensa que sou Ariti?
- Eu sou Pai-do-Mato!
- Era o Pai-do-Mato!”
Na Música:
Em 1930, Villa-Lobos apresentou o Pai-do-Mato, Ualalocê e Kamalalô no Rio de Janeiro. Villa-Lobos usou o poema de Mário de Andrade como referência para a composição, bem como as gravações de Roquette-Pinto, feitas em cilindros de cera há quase um século.
Da Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti
É Cultura? Tá no Ponto!
quinta-feira, 16 de setembro de 2010
Missão Jesuíta de Utiariti será o foco do “História no Ponto” em Campo Novo do Parecis
As ruínas da Missão Jesuítica Utiariti, às margens do rio Papagaio, na divisa dos municípios de Campo Novo do Parecis e Sapezal, possuem quase oito décadas de história envolvendo diversas etnias indígenas da região e a Igreja Católica.
No local, foi construído um complexo de prédios a partir de 1930, incluindo a primeira escola indígena de Mato Grosso. A grosso modo, a cultura e as crenças do ‘homem branco’ foram impostas aos índios durante mais de 40 anos.
Clique aqui e leia esta e outras matérias do Ninho do Sol no site do Balaio de Histórias!
No local, os indígenas de etnias como Paresí-Haliti, Manoki e Nhambikwara aprendiam com os professores jesuítas a Língua Portuguesa, além de várias profissões em oficinas montadas na escola.
Diz-se que enquanto os índios mais fortes retiravam a madeira na floresta, os mais jovens aprendiam a fazer móveis, como cadeiras, mesas, armários e camas.
Levantamentos feitos por estudiosos informam que havia também uma oficina onde era ensinada a profissão de eletricista. Na vila havia até uma máquina de beneficiar arroz.
O vai-e-vem de índios entre as aldeias da região era grande. Talvez, por causa disso, anos mais tarde, os jesuítas decidiram manter somente as crianças em regime de internato. Esse modelo de catequização durou até 1972, quando o complexo foi desativado.
O índio Haliti Valdomiro Yamoré, da aldeia Vale do Papagaio, chegou à sede da Missão Jesuíta em 1955, aos seis anos, vindo da Aldeia Água Limpa, terra onde hoje fica uma grande fazenda no município de Campo Novo do Parecis.
"Eu estava muito doente, com sarampo, e as irmãs cuidaram de mim", conta Yamoré que passou sete anos na sede da missão.
As ruínas ficam na área da aldeia Utiariti, dentro da reserva Tirakatinga, dos índios Nhambikwara, entretanto, não há ninguém vivendo especificamente na sede da missão, apesar das belezas naturais e da importância histórico-cultural.
A poucos metros do que restou das estruturas de concreto “levadas pelo não-índio em lombos de jumento”, pode-se ver o Salto Utiariti, uma cachoeira com queda d’água de aproximadamente 100 metros de altura.
Tal salto é propício para a prática de esportes radicais como o rapel.
Apesar de o local ter importância turística evidente, os potenciais pouco têm sido explorados. Desde 2007, os índios reivindicam a atenção do Estado para a exploração do turismo no local.
Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti- O Mito da Morte
De acordo com os anciãos, Zoetete eram dois homens que depois de velhos se transformaram em seres diferentes e místicos (Pajés). Eles podiam ver os deuses (Enoré) e tinham a capacidade de curar as pessoas tirando o feitiço que causavam suas doenças.
Em seu caminho para a aldeia dos mortos o espírito do morto deve atravessar uma pinguela de cobra sucuri, enquanto Zoetete espera do outro lado do córrego.
Se o espírito tiver feito muita coisa ruim durante a vida, ao atravessar a pinguela, a sucuri se mexe e ele tem de retornar para a margem do córrego. Se isso acontecer o Zoetete terá que atear fogo no espírito para as coisas ruins irem embora, e então ele atravessará a pinguela e a sucuri não se mexerá e Zoetete o levará para a aldeia dos mortos.
A aldeia dos mortos é uma réplica da aldeia dos vivos diferenciando-se apenas no fato de que lá estão suspensas as proibições do incesto.
Cada grupo Paresí-Haliti tem um lugar próprio na terra, uma aldeia para a morada depois da morte. Os Wáimare vão para um lugar denominado Zolohoiaka e os Kazárini vão para um outro lugar chamado Kalokaré.
Quando chega à aldeia dos mortos o espírito vira um Halíti de novo e ganha uma família igualzinha a que tinha antes de morrer. Deve ficar recluso dentro da casa e os Halíti lhe darão remédios e comida até que ele fique curado da doença que o matou.
Depois ele poderá se casar com quem quiser, fazer roça e pescar.
Da Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti
É Cultura? Tá no Ponto!
Programação do "História no Ponto" no Ninho do Sol
quarta-feira, 15 de setembro de 2010
Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti – O Mito de Criação
Após uma extensa pesquisa utilizando várias fontes de informação encontrei a versão que, na minha opinião, é mais ampla e melhor condiz com a realidade deste povo que habita a vastidão do Chapadão do Parecis.
Mito de Criação
"Antigamente não existia ninguém, só Enoré, que tinha uma filha e um filho. Quando seus filhos foram buscar água para ele, escutaram um barulho e a terra estremeceu.
Eram os Paresí-Haliti querendo sair de dentro de uma rocha nas proximidades de uma ponte natural de pedra, localizada no Rio Sucuruína.
O primeiro Paresí estava ali, dançando com as flautas sagradas, até que um pequeno pássaro voou para fora da pedra por uma fenda, retornando mais tarde para dizer aos outros como era bonito lá fora.
Então Wazáre, o herói mítico, persuadiu vários pássaros e animais para que aumentassem a fenda para que todos pudessem sair. Um grupo de irmãos saiu do interior da terra por uma abertura na rocha, transportando-se do mundo subterrâneo onde vivia para outro, situado acima, que viria a constituir-se no mundo Haliti.
Esses irmãos contribuíram, de formas diversas, para a conformação desse mundo. Eram eles: Wazáre, Kamazo, Zakálo, Zalóya, Zaolore, Kóno, Tahóe, Kamaihiye.
O primeiro a sair foi Wazáre, o mais velho dos irmãos, que orientou a saída dos mais novos e cuidou de sua instalação em diversos locais do novo mundo que descortinavam.
O mito revela que esse mundo existia antes de Wazáre chegar, mas que foi por seu intermédio que pode ser apreendido cognitivamente e, portanto, habitado pelos Halíti. As cabeceiras, os rios, os pássaros, as árvores e as flores estavam lá, mas foi Wazáre quem as denominou.
Quando saíram da pedra, os irmãos tinham uma aparência singular: eram peludos, possuíam rabos, tinham dentes compridos e membranas entre os dedos das mãos e dos pés sugerindo que estivessem em um estado “quase humano”.
Acontecimentos diversos ocorreram para a transformação da aparência dos irmãos, num processo gradativo que contou com o auxílio de seres do mundo animal (cutia, mutuca e formiga), que moldaram os corpos dos ancestrais para que atingissem a forma Halíti. Mas havia um homem, chamado Kuytihoré, que não arrancou todos os seus pelos corporais. Este homem era rico: tinha gado, cavalos e ferramentas de aço, que ofereceu para compartilhar com Wazáre.
Ele deixou Wazáre zangado, e este disse: “eu não quero gado, porque eles vão sujar o espaço em frente às casas dos meus filhos. Não quero ferramentas porque elas são envenenadas e vão matar meus filhos. Vocês vão para o outro lado da ponte de pedra, e não se misturem com os Paresí”. Kuytihoré foi para longe e ficou com os brancos e teve muitos filhos.
Ao final do processo de transformação, os irmãos saídos da pedra se tornaram aptos a manter relações sexuais e procriar. Wazáre e seus irmãos encontraram as filhas do rei das árvores (Atyáhiso) e com elas se casaram.
Essas, por sua vez, também não se encontravam completas, isto é, seus corpos não estavam prontos para copular e conceber. O processo de “humanização” das mulheres se fez através dos maridos, que detinham os instrumentos necessários para torná-las “halóti” (ser humano do sexo feminino).
Utilizando-se de um dente de paca, os homens modelaram a vagina das mulheres, tornando-se seus criadores. As mulheres também participaram da “humanização” dos seres míticos, uma vez que foram elas que ordenaram às mutucas que modificassem o órgão sexual masculino, de forma a adequá-lo ao tamanho de suas vaginas.
Os frutos destas uniões foram os halíti Kozárini (filhos de Kamázo), os Kazíniti (filhos de Záolore), os Warére (filhos de Kóno), os Káwali (filhos de Tahóe) e os Wáimare (filhos de Zákalo e Zalóya). Wazáre não gerou filhos e Kamaihíye também não deixou descendentes; os Wáimare são filhos de dois irmãos que mantiveram relações sexuais com a mesma mulher.
Os Kozárini, Kazíniti, Wáimare, Káwali e Warére nasceram “completamente humanos”, o que está claramente expresso na noção de Haliti (gente – gênero humano), que é aplicada para a totalidade de seus descendentes. Wazáre destinou a cada irmão um território determinado, dando surgimento a grupos sociais específicos".
Da Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti
É Cultura? Tá no Ponto!
Ponto de Cultura Ninho do Sol recebe o "História no Ponto"
O projeto História no Ponto é realizado pela Revista de História da Biblioteca Nacional em parceria com a Secretaria de Programas Culturais do Ministério da Cultura, e estará acontecendo em Campo Novo do Parecis de 23 a 25 de setembro de 2010.
Além do envio mensal da maior publicação sobre história do Brasil em circulação para a sede de 1.000 pontos de cultura, doze Pontos de Cultura (veja "Os Pontos" abaixo) realizarão um evento, que inclui um debate com um historiador convidado pela Revista a falar sobre algum tema relevante ao passado e ao presente da localidade do Ponto de Cultura.
Cada Ponto também terá a oportunidade de realizar apresentações artísticas e mostrar seus trabalhos para o público do evento.
O objetivo é proporcionar um diálogo entre saberes, promovendo um entrelaçamento destas diversas histórias, sejam acadêmicas ou populares, escrita nos livros ou cantada por mestres da cultura oral.
Com o objetivo de fortalecer e disseminar a diversidade do programa dos Pontos de Cultura, tanto em seus aspectos históricos, como também étnicos e sociais, a equipe do projeto irá gravar durante os eventos nos Pontos depoimentos de personagens importantes que reúnam histórias das regiões. Estas histórias serão a matéria-prima para o resgate e a valorização destes saberes na rede mundial de computadores.
Pretende-se estimular o conhecimento crítico sobre o passado e as dinâmicas da História, mostrando que a disciplina não está vinculada apenas a formas mnemônicas de apreensão de conteúdos, mas é também uma ciência viva que investiga o passado, que emprega práticas e métodos específicos para sua produção e que é capaz de incentivar reflexões críticas sobre os eventos do cotidiano.
O projeto permitirá ainda o debate, a reflexão e a difusão das diferentes tradições locais que constituem o Brasil. Trata-se de um utensílio cultural de enorme valor para se somar à contribuição que os Pontos de Cultura vem prestando às comunidades e ao enriquecimento da criação cultural no país.
"Os Pontos"
Quintal da Aldeia - Pirenópolis/Go
terça-feira, 14 de setembro de 2010
Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti – A Lenda do Milho
Ainotarê ordenou que o filho, logo após seu falecimento, o enterrasse no meio da grande roça que tinha perto da Haty (habitação tradicional dos Haliti). O chefe também avisou ao filho que, pouco tempo depois, nasceria na sepultura uma planta repleta de sementes.
Porém, Ainotarê advertiu que, três dias depois da grande inundação da chuva, brotaria de sua cova uma planta que, algum tempo depois, rebentaria em sementes. E disse-lhe que não as comesse, sim guardasse-as para a replanta, e assim, a tribo ganharia um recurso alimentar precioso.
O filho ouviu suas explicações atentamente e seguiu suas instruções.
Assim surgiu o milho entre os índios Paresí-Haliti, que habitam a região do Chapadão do Parecis.
Por Clemente Brandenburger, Lendas dos Nossos Índios, 33, Rio de Janeiro, 1931.
Da Série Mitos e Lendas dos Índios Paresí-Haliti
É Cultura? Tá no Ponto!
Projeto Cultural "Olhares Indígenas" oferecerá capacitações em fotografia e vídeo
Modos de viver Haliti: aspectos que serão registrados nas oficinas
O Projeto Cultural “Olhares Indígenas”, de proposição de Enoch José Pereira, pretende capacitar, preservar, promover e divulgar a cultura indígena Paresí-Haliti, de inestimável importância científica e cultural na região noroeste de Mato Grosso.
Estas ações serão executadas por meio de oficinas de capacitações de jovens indígenas e não-indígenas em fotografia e vídeo, organização de uma exposição fotográfica e exibição das produções em uma mostra de vídeo.
O Projeto Cultural “Olhares Indígenas” pretende envolver 14 jovens indígenas de 17 a 29 anos, conforme edital, selecionados pelas lideranças das aldeias envolvidas, e 10 jovens não-índios, selecionados pelo Conselho Municipal de Cultura, num processo de integração e respeito entre culturas, conforme segue:
• 14 indígenas (dois de cada aldeia) das aldeias Seringal, Quatro Cachoeiras, Bacaval, Bacaiuval, Sacre II, Ponte de Pedra e Chapada Azul.
• 10 jovens não-índios do município de Campo Novo do Parecis.
Celebrações, comidas, bebidas, cantos e danças serão registrados em fotografias e vídeo
A Oficina de Fotografia e a Oficina de Vídeo serão ministradas por profissionais com reconhecida capacidade na área, que darão as noções necessárias para que os jovens indígenas e não-indígenas possam registrar aspectos relevantes de suas aldeias: as hátis (casas tradicionais), vestimentas, artesanato (arte plumária, cestaria, armas de caça e pesca, bola de látex da mangaba), pintura corporal, comidas típicas, danças, cantos, jogos, festas.
A Oficina de Fotografia e a Oficina de Vídeo também permitirá o registro de locais de importância histórica, cultural, turística e ambiental do município de Campo Novo do Parecis e região:
• Cidade de Pedra e Ponte de Pedra – locais com formações rochosas em pleno cerrado, cachoeiras e uma ponte natural de pedra; local sagrado de nascimento mítico do povo Haliti e de toda a humanidade;
• Salto Utiariti – cachoeira com 90m de queda, local de passagem de Mal. Rondon;
• Salto Belo – cachoeira com 40m de queda, local de atuação de Madre Tarcila e Pe. Arlindo Ignácio de Oliveira, personalidades históricas no período das Missões.
• Abrigos da Prainha e da Véia Péia – abrigos com inscrições rupestres de importância arqueológica nessa região.
• Quatro Cachoeiras – cachoeiras que dão nome a uma das aldeias da Terra Indígena Utiariti, local de celebração do Fogo Ancestral Indígena nos I Jogos Interculturais Indígenas de Mato Grosso e local de passagem da Tocha Pan-americana Rio 2007.
A Exposição Fotográfica e Mostra de Vídeo “Olhares Indígenas” pretendem envolver a classe estudantil, professores, universitários e toda a comunidade, as aldeias indígenas e os órgãos municipais, estaduais e federais na preservação deste patrimônio cultural regional por meio do seu conhecimento e valorização.
O projeto “Olhares Indígenas” pretende, especialmente, formar cidadãos conscientes de sua herança cultural com os objetivos de fortalecer as políticas públicas que permitam a valorização, gerenciamento e preservação do patrimônio imaterial com efetiva participação das populações envolvidas, fazendo com que as informações obtidas nestas ações sejam o que deveriam ser – um bem público – e, portanto, a serviço dessas sociedades.
Com informações de Enoch Pereira
Fotos Sílvia Schneiders
segunda-feira, 13 de setembro de 2010
Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti - A Lenda da Mandioca
Em prosa:
Conta a lenda dos índios Paresí-Haliti, que habitam a nossa região, que Zatiamare e sua mulher, Kôkôtêrô, tiveram um casal de filhos: um menino, o qual chamaram de Zôkôôiê e uma menina, Atiôlô.
O pai amava o filho e desprezava a filha. Se ela o chamava, ele só respondia por meio de assovios; nunca lhe dirigia a palavra. Atiôlô sofria muito com o desprezo do pai.
Desgostosa, Atiôlô pediu a sua mãe que a enterrasse viva, visto como assim seria mais útil. Depois de longa resistência ao estranho desejo, Kôkôtêrô acabou cedendo às súplicas da filha e a enterrou no meio do cerrado.
Porém, ali não pode resistir por causa do calor, e rogou que a levassem para o campo, onde também não se sentiu bem. Mais uma vez suplicou a Kôkôtêrô que a mudasse para outra cova, esta última aberta na mata, aí se sentiu à vontade.
Pediu, então, à sua mãe que se retirasse, recomendando-lhe que não volvesse os olhos quando ela gritasse. Depois de muito tempo gritou. Kôkôtêrô voltou-se rapidamente.
Viu, no lugar onde enterrara a filha, um arbusto muito alto, que logo se tornou rasteiro assim que se aproximou. Tratou da sepultura. Limpou o solo. A plantinha foi-se mostrando cada vez mais viçosa. Mais tarde, Kôkôtêrô arrancou do solo a raiz da planta: era a mandioca.
Que dela é tudo gostoso,
Nos conta os índios parecís
Das bandas de Mato Grosso.
Zatiame uma índia
De nome Kôkôrêtô,
O seu filho Zôcôiê
E a filha Atiôlô.
O pai amava o índio
Que era sua maravilha,
Porém nunca dirigiu a palavra
Para a índia sua filha.
Ela muito desgostosa
Por não ter esse carinho,
Queria ser enterrada viva
E para a sua mãe pediu.
Desejava ser útil aos seus
Assim falava Atiôlô,
E o seu pedido foi fazer
A mãe índia Kôkôrêtô.
Cedendo aos rogos da filha
Foi enterrada no cerrado,
Porém ali não pôde resistir
Porque o calor era danado.
Rogou que a levasse para o campo
Onde poderia sentir bem,
Mas no campo não deu certo
E tornou implorar também.
Mais uma vez pediu
A sua mãe Kôkôrêtô,
Que a enterrasse na mata
Que assim fez com muito amor.
Lá se sentiu à vontade
Que pediu a mãe que retirasse,
E que não volvesse seus olhos
Enquanto ela não gritasse.
Depois de muito tempo
Enfim, a filha gritou,
Para lá saiu correndo
A sua mãe Kôkôrêtô.
E onde enterrou a filha
Veja o que aconteceu!
Surgiu uma plantinha
Que na cova nasceu.
Um arbusto foi crescendo
Que rasteiro foi ficando,
Kôkôrêtô assim que viu
A sepultura foi limpando.
Limpou logo o solo
Que a plantinha viçosa,
Sustentada por uma raiz
Grande e maravilhosa.
Deu-se o nome de mandioca
A raiz daquela plantinha,
A filha ajudou os seus
Dando-lhes tapioca e farinha”.
Por Airam Ribeiro-Poeta de Cordel
Da Série Mitos e Lendas dos Índios Paresí-Haliti
É Cultura? Tá no Ponto!
Espetáculo "Amure" levará aos palcos cultura indígena
Espetáculo tem como proposta principal questionar o contato entre culturas, e a perda de uma pela outra.
O Espetáculo "AMURE” narra a história de Toni, um jovem indígena da etnia Paresí-Haliti. Num processo de aculturação, o jovem indígena é chamado a questionar a situação atual de seu povo, numa viagem rumo ao seu passado imemorial.
No processo de pesquisa (laboratório cênico) serão feitas entrevistas com pessoas de notório saber da etnia Paresí-Haliti acerca dos mitos, lendas e histórias de sua cultura. Também clippagem de matérias relacionadas à essa etnia em vários veículos de informação, a fim de constituir acervo para pesquisa a ser doado à Biblioteca Ninho do Sol.
O espetáculo “AMURE” dará um panorama geral da situação atual dos indígenas da etnia Paresí-Haliti, que vivem na Terra Indígena Utiariti, entre os municípios de Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra e Sapezal. Também na Terra Indígena Ponte de Pedra, entre os municípios de Campo Novo do Parecis, Diamantino e Nova Maringá.
Essa etnia milenar é conhecida desde os anos de 1700, considerada por muitos pesquisadores como um povo pacífico, que tem sofrido desde o seu contato com o não-índio um processo crescente de aculturação, de perda de seus valores míticos, sociais, culturais.
“Dizem os mais antigos que os pajés Haliti são capazes de voar...”
O espetáculo “AMURE”, de autoria de Van César e Alexandre Rolim, está sendo montado baseado em documentos e pesquisas das mais diversas fontes. Um grande elenco e equipe técnica participarão do espetáculo “AMURE”.
O espetáculo trará inúmeras palavras na língua mãe dos Paresí-Haliti como forma de valorização de todos os aspectos culturais. Será apresentado em Campo Novo do Parecis e nos municípios de Tangará da Serra, Sapezal e Cuiabá.
Os figurinos e adereços confeccionados por indígenas dessa etnia serão anexados ao Projeto Memória do Ponto de Cultura Ninho do Sol, após as apresentações do espetáculo, assim como os registros resultantes das entrevistas, constituindo-se acervo do projeto.
Se não for pra me fazer voar...
O roteiro de “AMURE” está estruturado em 09 cenas, e a primeira delas narra o Chamado do Pajé, onde um jovem indígena descreve sua primeira visão do mundo espiritual e a missão que começa a se delinear.
Palco escuro, apenas um feixe de luz ilumina um jovem indígena vestido normalmente, com jeans e camiseta. Ele está ajoelhado, com o olhar parado, olhando o vazio.
Toni – Acordo em luz!
Acordo em cor!
Estou suspenso no nada, flutuando no vazio...
Eu poderia ter seguido minha vida normal de um jovem indígena desta terra, um jovem haliti que deixou sua wenakalaty, sua aldeia muito cedo para estudar em escola de imóti, de não-índio, de quem absorvi a língua, os costumes, o modo de vestir, de ser, de sentir.
Sentir...
Já não sinto o meu povo Haliti como meu.
Já não tenho o amor pelos rios, pela mata, pelo cerrado, pelos campos onde a seriema canta triste o seu cantar.
Já não sentia...
Agora sinto!
Sinto profundamente meus pés tocarem o chão... Sinto com cada fibra, com cada nervo, com cada fagulha de meu ser. Sinto cada folha seca que se despedaça a cada passo que dou rumo àquela árvore que se agiganta no meio da floresta.
Paro... Olho...
A árvore se parte em quatro, apontando direções – norte e sul, nascer e por do sol. Direções que devo seguir?
Sinto meus pés deixarem o chão...
Toni (grita) – Se não for pra me fazer voar, não tire meus pés do chão!
Estou envolto em luz... estou envolto em cor!
Estou suspenso no nada, flutuando no vazio...
No meio da árvore partida vejo um ninho. Nele um ovo – um grande ovo e junto, um pequeno pássaro cor de terra, cor de casca, cor de folha seca que olha para o ovo que se parte. De dentro dele sai um bebe que olha pra mim... Ele tem a idade de uma criança no olhar... Ele tem a idade do mundo na alma... Olho profundamente – ele é eu!
Ela chega suavemente e toca o rosto dele.
Miriã – Você foi chamado!