e um dos assuntos que serão abordados no espetáculo Amure
Espetáculo tem como proposta principal questionar o contato entre culturas, e a perda de uma pela outra.
O Espetáculo "AMURE” narra a história de Toni, um jovem indígena da etnia Paresí-Haliti. Num processo de aculturação, o jovem indígena é chamado a questionar a situação atual de seu povo, numa viagem rumo ao seu passado imemorial.
No processo de pesquisa (laboratório cênico) serão feitas entrevistas com pessoas de notório saber da etnia Paresí-Haliti acerca dos mitos, lendas e histórias de sua cultura. Também clippagem de matérias relacionadas à essa etnia em vários veículos de informação, a fim de constituir acervo para pesquisa a ser doado à Biblioteca Ninho do Sol.
O espetáculo “AMURE” dará um panorama geral da situação atual dos indígenas da etnia Paresí-Haliti, que vivem na Terra Indígena Utiariti, entre os municípios de Campo Novo do Parecis, Tangará da Serra e Sapezal. Também na Terra Indígena Ponte de Pedra, entre os municípios de Campo Novo do Parecis, Diamantino e Nova Maringá.
Essa etnia milenar é conhecida desde os anos de 1700, considerada por muitos pesquisadores como um povo pacífico, que tem sofrido desde o seu contato com o não-índio um processo crescente de aculturação, de perda de seus valores míticos, sociais, culturais.
“Dizem os mais antigos que os pajés Haliti são capazes de voar...”
O espetáculo “AMURE”, de autoria de Van César e Alexandre Rolim, está sendo montado baseado em documentos e pesquisas das mais diversas fontes. Um grande elenco e equipe técnica participarão do espetáculo “AMURE”.
O espetáculo trará inúmeras palavras na língua mãe dos Paresí-Haliti como forma de valorização de todos os aspectos culturais. Será apresentado em Campo Novo do Parecis e nos municípios de Tangará da Serra, Sapezal e Cuiabá.
Os figurinos e adereços confeccionados por indígenas dessa etnia serão anexados ao Projeto Memória do Ponto de Cultura Ninho do Sol, após as apresentações do espetáculo, assim como os registros resultantes das entrevistas, constituindo-se acervo do projeto.
Se não for pra me fazer voar...
O roteiro de “AMURE” está estruturado em 09 cenas, e a primeira delas narra o Chamado do Pajé, onde um jovem indígena descreve sua primeira visão do mundo espiritual e a missão que começa a se delinear.
Palco escuro, apenas um feixe de luz ilumina um jovem indígena vestido normalmente, com jeans e camiseta. Ele está ajoelhado, com o olhar parado, olhando o vazio.
Toni – Acordo em luz!
Acordo em cor!
Estou suspenso no nada, flutuando no vazio...
Eu poderia ter seguido minha vida normal de um jovem indígena desta terra, um jovem haliti que deixou sua wenakalaty, sua aldeia muito cedo para estudar em escola de imóti, de não-índio, de quem absorvi a língua, os costumes, o modo de vestir, de ser, de sentir.
Sentir...
Já não sinto o meu povo Haliti como meu.
Já não tenho o amor pelos rios, pela mata, pelo cerrado, pelos campos onde a seriema canta triste o seu cantar.
Já não sentia...
Agora sinto!
Sinto profundamente meus pés tocarem o chão... Sinto com cada fibra, com cada nervo, com cada fagulha de meu ser. Sinto cada folha seca que se despedaça a cada passo que dou rumo àquela árvore que se agiganta no meio da floresta.
Paro... Olho...
A árvore se parte em quatro, apontando direções – norte e sul, nascer e por do sol. Direções que devo seguir?
Sinto meus pés deixarem o chão...
Toni (grita) – Se não for pra me fazer voar, não tire meus pés do chão!
Estou envolto em luz... estou envolto em cor!
Estou suspenso no nada, flutuando no vazio...
No meio da árvore partida vejo um ninho. Nele um ovo – um grande ovo e junto, um pequeno pássaro cor de terra, cor de casca, cor de folha seca que olha para o ovo que se parte. De dentro dele sai um bebe que olha pra mim... Ele tem a idade de uma criança no olhar... Ele tem a idade do mundo na alma... Olho profundamente – ele é eu!
Ela chega suavemente e toca o rosto dele.
Miriã – Você foi chamado!
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