Conta a lenda dos índios Paresí-Haliti, que logo que saiu da pedra (Ponte de Pedra), o herói mítico, Wazare, distribuiu seu povo em diversas regiões do Chapadão dos Parecis.
Depois de cumprir sua missão, Wazare fez uma grande festa de confraternização antes de voltar a seu mundo. Durante a festa, ele mostrou a todos a função da cabeça no comando do corpo e sua capacidade de desenvolver a inteligência e alcançar a plenitude mental e espiritual.
Ele também demonstrou que a cabeça poderia ser usada em sua capacidade física, especificamente na habilidade para com o Xikunahity, o Cabeçabol. De acordo com as crenças desta etnia, foi nesta comemoração que aconteceu a primeira partida deste esporte curioso.
Entre os Paresí, o esporte só é praticado durante grandes cerimônias, como: oferta da primeira colheita das roças, iniciação dos jovens de ambos os sexos, ritual das flautas sagradas, caça, pesca e coleta de frutas silvestres abundantes e batismo.
A bola de mangaba
A bola utilizada no jogo é peculiar, pois é de fabricação dos Haliti, feita com a seiva de mangabeira, um tipo de látex extraído de uma arvorezinha do cerrado.
O processo de confecção tem duas etapas: na primeira, a seiva é colhida e colocada sobre uma superfície lisa, onde permanece por certo tempo, até formar uma camada ligeiramente espessa.
Na segunda fase faz-se a parte central da bola (núcleo), que inclui o aquecimento da seiva de mangaba em uma panela e resulta em uma película. O látex tem suas extremidades unidas, de modo a formar um saco que será inflado com ar, por meio de um "canudo".
Depois, o núcleo ganha formas arredondadas e recebe sucessivas películas de látex, obtidas da primeira etapa, até formar uma bola, secar e resfriar, ganhando consistência suficiente para pular. A bola tem aproximadamente 30 cm de diâmetro.
O que é?
O Xikunahity é uma espécie de futebol, em que o chute só pode ser dado usando a cabeça.
É um esporte praticado tradicionalmente pelos povos Paresi, Salumã, Irántxe, Mamaidê e Enawenê-Nawê, todos de Mato Grosso. É disputado por duas equipes que podem possuir oito, dez ou mais atletas e um capitão.
É realizada em campo de terra batida, para que a bola ganhe impulso. O tamanho do campo é semelhante ao de futebol, e conta com uma linha demarcatória ao centro, que delimita o espaço de cada equipe.
A partida tem início quando dois atletas veteranos, um de cada equipe, dirigem-se ao centro do campo para decidir quem irá lançar a bola ao outro, que deverá rebate-la. Isto é decidido por meio de diálogo e a partida inicia com a primeira cabeçada para o campo adversário, a ser recepcionada por um dos atletas com a cabeça.
Após isso, os dois atletas deixam o campo, e não realizam outra atividade durante o jogo inteiro. Na disputa, a bola não pode ser tocada com as mãos, pés ou outra parte do corpo, mas pode tocar o chão, antes de ser rebatida pela outra equipe.
Os atletas Paresí se atiram e mergulham com o rosto rente ao chão, livrando o nariz de tocar o solo, o que provoca uma certa violência no "chute" de cabeça e demonstram toda a habilidade, destreza e técnica necessárias na recepção e arremesso da bola.
A equipe marca pontos quando a bola não é devolvida pelos adversários, ou seja, quando deixa de ser rebatida. Quanto maiores as habilidades dos atletas que compõem as equipes, mais acirradas são as disputas, podendo durar até mais de quarenta minutos.
Da Série Mitos e Lendas Paresí-Haliti.
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