Olivio Jekupe, autor de livros que tratam das questões indígenas
Um eclipse nada mais é que um acontecimento natural, o alinhamento entre sol e lua durante a dança do sistema solar. Pelo menos, é o que acredita a nossa vã filosofia. Mas, certamente entre o céu e a terra existem mais coisas que nem sonhamos. Para o povo Maraguá, por exemplo, este fenômeno acontece quando um casal apaixonado que se separou se reencontra. Esta e muitas outras histórias, contadas pela ótica dos índios, pode ser conhecida na segunda edição da Feira do Livro Indígena de Mato Grosso.
Durante a abertura do evento, ocorrida na noite desta quarta-feira (24), o índio Roni Wasiry Guará contou um pouco sobre seu 5º livro, Çaicú Ìndé, que narra a história do primeiro grande amor que teve de ser separado e do reencontro destes seres apaixonados. “Muitos povos enxergam o eclipse como uma coisa ruim, para a gente não, é uma coisa boa”, diz o índio.
Este é o grande alcance da feira, que permite o conhecimento do mundo por meio de outros olhares. O olhar de uma cultura pautada na oralidade e que, agora, com o advento de uma geração de escritores, está registrando sua tradição em português a fim de que ela não se perca no tempo.
“Sempre foi o homem branco que falou sobre nós. Mas agora, somos nós que estamos falando. É muito diferente”, diz Olívio Jekupe, índio Guarani que está lançando dois livros de uma só vez, seus 11º e 12º trabalhos.
Em um de seus lançamentos, Jekupe conta a história de uma ave cujo canto é semelhante a um choro. A explicação para o pranto do animal não vem da biologia. É que ela era uma linda índia que se apaixonou e fazia juras de amor à lua. Para testar essa paixão, a lua se travestiu de um homem velho desceu à terra.
Com a aparência velha e feia, a lua começou a tentar flertar com a índia, que não dava a mínima, sem saber que aquele era seu amado sob disfarce. Vendo o desprezo da moça com o idoso, a irmã daquela índia resolveu se oferecer para casar com ele, que aceitou de prontidão e assumiu sua forma mais bela. Após o casamento, ambos subiram ao céu, ela como Estrela Dalva.
Já a índia que o desprezou pela má aparência, coitada, foi transformada na tal ave chorona. Toda noite ela aparece nas proximidades da aldeia cantando seu pesar. “Não vemos essa ave durante o dia”, revela o índio escritor.
Fonte: Olhar Direto
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