domingo, 2 de setembro de 2012

Descrição dos Halítis por Rondon


PARECÍS / ARÍTIS

Os Parecís encontravam-se nas zonas da Serra do Norte, Aldeia Queimada, Utiariti, Salto do Timalatiá e dos rios Paraguai, Juruena e Guaporé.


Morfologicamente eram baixos, a pele era amarela, mais ou menos escura conforme o grupo, lisa ou pouco enrugada. Tinham mãos e pés pequenos, assim como os olhos, castanho-escuros. Eram comuns as tatuagens nos braços e nas coxas. Verificou-se uma queda prematura dos incisivos medianos. Eram tipicamente delicados e o seu aspecto era simpático.
Não havia um chefe geral dos Parecís. Havia em cada aldeia um chefe temporal (Amúri), sempre obedecido, e outro espiritual (Utiaríti), sempre respeitado e que exercia funções de sacerdote e médico, guardando na memória as lendas do povo. Acontecia por vezes serem representados pela mesma pessoa. 

A língua possuía um léxico abundante, enriquecido por Rondon, pessoa influente no meio parecí, tendo construído duas escolas no território. Entre o material etnográfico recolhido encontravam-se: escudos, vasos, cestos, redes de dormir, faixas em tecido para atar à cintura ou à cabeça, sacos de palha, abanos, peneiras, instrumentos musicais, instrumentos sagrados, arcos e flechas. Devido aos mais de duzentos anos de contacto com os brancos, quase todos os filhos falavam ou percebiam o português.

Não foi encontrada qualquer informação de degeneração física ou psíquica, nem nenhuma doença nervosa. Eram, no entanto, frequentes paludismo crónico, bronquites e inflamações das vias aéreas superiores, ao que se pensava devido à poeira. Foram poucos os idosos encontrados, sendo na sua maioria do sexo feminino.


Existia poligamia. Casavam-se jovens. Alguns criavam meninas para desposar quando atingissem a puberdade. Tratavam as mulheres com desprezo. Só consentiam que comessem depois de completamente saciados. Segregavam-nas das cerimónias, escondiam delas os objectos sagrados, não lhes permitiam dançar e cantar na sua companhia. Eram elas que socavam o milho, plantavam, fiam, lavavam a roupa, cozinhavam e tratavam dos filhos. Por ocasião do nascimento de uma criança, ambos os progenitores jejuavam até à queda do cordão umbilical. A amamentação prolongava-se por bastante tempo. Aos três anos era baptizado recebendo o nome de um dos avós. Os mortos inumavam-se dentro de casa. Os parentes jejuavam nos seis dias seguintes. Acreditavam que se nesse período o morto não ressuscitasse era porque tinha conseguido entrar no céu.

Normalmente andavam vestidos, mas nas horas de maior calor era frequente despirem a roupa. Usavam as armas dos brancos. Utilizavam-nas para caçar. Os animais superiores mais comuns eram emas, araras, corujas, lobos, lagartos, serpentes, perdizes, narcejos (ave pernalta) e inhambus (ave sem cauda). As casas parecís eram grandes com tecto diedro coberto de palmas e portas pequenas. Ao centro um esteio alto e forte, à volta do qual se armavam redes e se acendem fogueiras. Mais de trinta pessoas moravam numa palhoça.

Em tempo de lazer, atavam guizos aos tornozelos para dançar, feitos de frutos secos de “piqui”. Fabricam, com borracha da mangabeira, bolas com que jogavam “Mataná-Arití” ou Head-ball como lhe chamou Roosevelt. Neste jogo duas equipas em dois campos passavam a bola de um lado para o outro com a cabeça.

Os índios apreciavam muito presentes, nomeadamente fósforos e principalmente machados de ferro. Por machado trocavam tudo. O ferro é o ouro da Serra do Norte. As índias também apreciavam pentes e cosméticos. Assim se conquistava a simpatia dos índios.


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