Por Reinaldo Azevedo
Alguns leitores pedem que eu comente o tal “Dia do Orgulho Hétero”, aprovado pela Câmara dos Vereadores de São Paulo. Já comentei faz tempo. Acho de uma estupidez supina. Mas certamente é um exagero afirmar que se trata de expressão da homofobia ou sei lá o quê. Isso já é manifestação dos patrulheiros “do bem”, daqueles que acham que a “sociedade tem todo o direito de se manifestar, desde que a causa seja boa” — vale dizer: desde que eles concordem com a pauta. É expressão típica da mentalidade de esquerda, que pretende ter o monopólio das boas intenções. O “Dia do Orgulho Hétero” é só a outra face do “gayzismo”, que é o proselitismo gay levado às raias da patrulha.
Gays podem e devem reivindicar direitos, sim! Mas o que quer dizer “Dia do Orgulho gay?” Por que “orgulho”? Orgulho de quê? As pessoas costumam se orgulhar, na hipótese benigna, de um feito raro, notável, de uma ação espetacular; na hipótese nada virtuosa, de serem possuidoras de alguma característica ou de algum bem que fazem falta à imensa maioria das pessoas — nesse caso, “orgulho” é quase sempre arrogância.
Nem devem se orgulhar os gays de serem gays, já que isso não lhes confere competências especiais, nem devem se orgulhar os héteros, pelo mesmo motivo. Adicionalmente, observo que a “condição gay” — e não “opção” — mais traz dissabores aos indivíduos do que facilidades extras, e só por isso eles se organizam para reivindicar direitos. Quem se orgulha de ser discriminado está com alguma patologia. Os héteros pertencem a uma maioria que ultrapassa os 90% da humanidade. “Orgulho” de ser maioria não é um sentimento de que alguém deva… orgulhar-se!
Eu nunca fui simpático — atenção: nem quando era de esquerda! — a esses movimentos que chamarei de “afirmação identitária”: “Nós somos negros, nós somos mulheres, nós somos gays”. Quando eu era comuna, achava que isso distorcia a essência da luta de classes — se eu fosse comuna, certamente continuaria a achar a mesma coisa, consoante com a teoria. Costumo ser ortodoxo em matéria de doutrina, hehe… Como sou um liberal, acho que essas expressões negam a essência da democracia. É preciso tomar muito cuidado com as chamadas ações de “discriminação positiva”.
Uma coisa é construir calçadas, por exemplo, com passagem para cadeirantes — o que confere facilidades aos chamados “portadores de necessidades especiais”, nome politicamente correto para a deficiência física —, outra, distinta, é instituir regimes de cotas raciais ou sociais em universidades, cassando direitos de indivíduos em nome da reparação histórica e violando o princípio da igualdade perante a lei. Quando os gays reivindicam igualdade perante a lei, estão no caminho certo — sempre destacando que o Supremo não pode violar a Constituição por isso, como fez…; quando tentam emplacar o PLC 122, vão pelo mau caminho.
Talvez um dia a gente ainda venha a se orgulhar do bom senso e da ponderação. Não custa ter esperanças, não é mesmo?
Fonte:http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/
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