segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Série Lendas e Mitos Paresí-Haliti - A Lenda da Mandioca

Mandioca - Base Alimentar dos Índios Paresí-Haliti
Na fotografia de Sílvia Schneiders, índia Haliti fabrica Chicha e Bijú (Tapioca)


Em prosa:
Conta a lenda dos índios Paresí-Haliti, que habitam a nossa região, que Zatiamare e sua mulher, Kôkôtêrô, tiveram um casal de filhos: um menino, o qual chamaram de Zôkôôiê e uma menina, Atiôlô.

O pai amava o filho e desprezava a filha. Se ela o chamava, ele só respondia por meio de assovios; nunca lhe dirigia a palavra. Atiôlô sofria muito com o desprezo do pai.

Desgostosa, Atiôlô pediu a sua mãe que a enterrasse viva, visto como assim seria mais útil. Depois de longa resistência ao estranho desejo, Kôkôtêrô acabou cedendo às súplicas da filha e a enterrou no meio do cerrado.

Porém, ali não pode resistir por causa do calor, e rogou que a levassem para o campo, onde também não se sentiu bem. Mais uma vez suplicou a Kôkôtêrô que a mudasse para outra cova, esta última aberta na mata, aí se sentiu à vontade.

Pediu, então, à sua mãe que se retirasse, recomendando-lhe que não volvesse os olhos quando ela gritasse. Depois de muito tempo gritou. Kôkôtêrô voltou-se rapidamente.

Viu, no lugar onde enterrara a filha, um arbusto muito alto, que logo se tornou rasteiro assim que se aproximou. Tratou da sepultura. Limpou o solo. A plantinha foi-se mostrando cada vez mais viçosa. Mais tarde, Kôkôtêrô arrancou do solo a raiz da planta: era a mandioca.

Por Clemente Brandenburger, Lendas dos Nossos Índios, Págs. 34-35.

Etnia Haliti ainda realiza a Festa da Colheita da Mandioca
Uma tradição milenar repassada de pais para filhos
Fotografia de Sílvia Schneiders

Em verso:
“Esta raiz maravilhosa
Que dela é tudo gostoso,
Nos conta os índios parecís
Das bandas de Mato Grosso.

Zatiame uma índia
De nome Kôkôrêtô,
O seu filho Zôcôiê
E a filha Atiôlô.

O pai amava o índio
Que era sua maravilha,
Porém nunca dirigiu a palavra
Para a índia sua filha.

Ela muito desgostosa
Por não ter esse carinho,
Queria ser enterrada viva
E para a sua mãe pediu.

Desejava ser útil aos seus
Assim falava Atiôlô,
E o seu pedido foi fazer
A mãe índia Kôkôrêtô.

Cedendo aos rogos da filha
Foi enterrada no cerrado,
Porém ali não pôde resistir
Porque o calor era danado.

Rogou que a levasse para o campo
Onde poderia sentir bem,
Mas no campo não deu certo
E tornou implorar também.

Mais uma vez pediu
A sua mãe Kôkôrêtô,
Que a enterrasse na mata
Que assim fez com muito amor.

Lá se sentiu à vontade
Que pediu a mãe que retirasse,
E que não volvesse seus olhos
Enquanto ela não gritasse.

Depois de muito tempo
Enfim, a filha gritou,
Para lá saiu correndo
A sua mãe Kôkôrêtô.

E onde enterrou a filha
Veja o que aconteceu!
Surgiu uma plantinha
Que na cova nasceu.

Um arbusto foi crescendo
Que rasteiro foi ficando,
Kôkôrêtô assim que viu
A sepultura foi limpando.

Limpou logo o solo
Que a plantinha viçosa,
Sustentada por uma raiz
Grande e maravilhosa.

Deu-se o nome de mandioca
A raiz daquela plantinha,
A filha ajudou os seus
Dando-lhes tapioca e farinha”.

Por Airam Ribeiro-Poeta de Cordel

Da Série Mitos e Lendas dos Índios Paresí-Haliti
É Cultura? Tá no Ponto!

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